A banda sonora dos primeiros meses

"93 million miles from the Sun, people get ready get ready,
'cause here it comes it’s a light, a beautiful light, over the horizon into our eyes
Oh, my my how beautiful, oh my beautiful mother
She told me, "Son in life you’re gonna go far, and if you do it right you’ll love where you are
Just know, that wherever you go, you can always come home.(..)

Every road is a slippery slope
There is always a hand that you can hold on to.
Looking deeper through the telescope

You can see that your home’s inside of you.

Just know, that wherever you go, no you’re never alone, you will always get back home."

 Esta foi a música mais ouvida nos primeiros tempos desta aventura. É a música que aconchega este coração, pela transmissão de ideias importantes e de boa energia. Para mim, é impossível  ouvir esta música sem cantarolar e colocar um enorme sorriso nos lábios. 

 Peço desculpa pela prolongada ausência neste espaço tão especial para mim, mas o meu computador não gosta do inverno polaco.

  Hoje, fazem precisamente dois meses e uma semana desde que iniciei esta aventura. O balanço é  positivo. Parti com o coração carregado de esperança e de sonhos. Voei para a Polónia e aqui estou a fazer voluntariado, a descobrir-me , a criar novas fronteiras e a aprender a destruir limites. 

   Aqui na fundação , sente-se um verdadeiro espírito familiar, sinto-me em casa. Todos os dias recebo afecto, no mais puro sentido, daquele que é dado de coração cheio. Sorrio pelos olhares, pelos abraços apertados, pelas gargalhadas, pelo sentido de pertença e pela partilha diária.   Existe um projecto que tencionamos criar  na fundação, eu e a minha companheira de projecto, que entretanto embarcou nesta aventura. A linguagem é uma barreira. Aos poucos, começo a compreender e a formular pequenas frases. Falar polaco não é nada fácil. Actualmente, estou a participar numa espécie de aulas de trocas linguísticas. Estou a ensinar português a uma rapariga polaca e ela ensina-me polaco. São horas de partilha intensa ,de aprendizagem de vida.
   Esta aventura está a permitir-me construir novos horizontes. Conheci pessoas com histórias de vida fantásticas, que me motivam a continuar a sonhar, a voar pela vida. Neste tipo de aventuras, existe uma partilha cultural tão intensa e interessante. É fascinante conhecer novos estilos de vida. Por vezes, construímos pequenas barreiras, consideramos que será impossível participar em diversas coisas. Estou a descobrir imensos projectos, imensos programas interessantes que nem imaginava que existissem. Por vezes, é só necessária a nossa força de vontade para realizarmos alguns sonhos.
   Existiram dias menos bons. Quero sempre fazer mais e melhor. É necessário tempo para compreender as problemáticas, para conseguir intervir. Nesse sentido, existiram dias mais monótonos, desmotivantes. Esses dias também foram marcados pelas saudades e pela nostalgia. Por vezes, quase que poderia jurar que ouvi pessoas a falar português. Inúmeras vezes, achei que reconheci rostos, traços do rosto, familiares a este coração cheio de saudades. Quantas vezes considerei que reconheci os carros dos meus amigos e da minha família. Na semana passada, uma irmã disse-me para voltar. Foi impossível não chorar e não sentir vontade de fazer a malas e rumar ao aeroporto.
  Nesses momentos, existe uma força de vontade, uma luz que vive dentro de mim e que me dá sempre alento para continuar. Apesar das saudades, não consigo imaginar-me a voltar antes de terminar o projecto. Estou a crescer interiormente, a aprender a lidar com os meus fantasmas, a aprender a gostar de mim e a aceitar todas as emoções do último ano. Por vezes, temos de parar o ritmo frenético em que vivemos diariamente e simplesmente permitirmos-nos sentir. Por vezes, apenas temos de escutar o nosso coração, dedicar-nos aos outros e conceder-nos a oportunidade de ser, de sermos humanos. Estou a descobrir tanto sobre mim, sobre o meu mundo, sobre as casas e as vidas que construímos dentro da nossa alma. Aprendam a ser, pela vida e pelo mundo.